Segundo a Enciclopédia Britânica a inteligência é a habilidade de se adaptar efectivamente ao ambiente, seja fazendo uma mudança em nós mesmos, mudando o ambiente ou encontrando um novo ambiente. Esta definição, abrangente, integra o indivíduo e as suas interacções com o meio. A inteligência deverá ser concebida como entidade multifactorial na medida em que envolve diversos processos tais como a linguagem, pensamento, memória, raciocínio, consciência e potencialidades para a aprendizagem. Assim, a inteligência não é um processo mental único, mas sim uma combinação de muitos processos mentais dirigidos à adaptação efectiva ao ambiente, prossegue a Enciclopédia Britânica.
O que existe em comum entre as diferentes perspectivas que procuram definir o conceito, é o facto de a inteligência remeter para processos e actividades mentais com uma finalidade adaptativa dirigindo-se à consecução de determinadas metas ou objectivos. Estes princípios de direcção, adaptação e de controlo estão já presentes nos trabalhos de Binet e Simon que distinguiam dois tipos de inteligência: a ideativa, caracterizada pela acção de palavras e ideias; e a instintiva mais ligada aos sentimentos.
Sternberg considera ainda que é importante considerar também as características activas e não meramente reactivas dos indivíduos, isto é, a relevância de o sujeito ser capaz de avaliar, seleccionar e modificar o ambiente em que se move. Assim, o conceito de inteligência fundamenta-se numa atitude activa face à identificação, análise e resolução de problemas produzindo actualizações e reconceptualizações constantes em função das especificidades e das relações estabelecidas com o contexto.
Sternberg (1990) procurando explorar compreender as relações da mente com o mundo interior e exterior propõe que as concepções de inteligência sejam interpretadas em função das metáforas que as originam. Assim, identifica sete metáforas: geográfica, computacional, biológica, epistemológica, antropológica, sociológica e, por fim, a metáfora dos sistemas.
Os estudos e investigações no domínio da inteligência podem também agrupar-se em torno de duas perspectivas distintas: teorias explícitas e teorias implícitas da inteligência (Faria & Fontaine, 1993).
As teorias explícitas fundamentam-se em investigações e construções experimentais sobre a inteligência valorizando ou acentuando as variáveis biológicas, a influência do meio/ contexto, a relação existente entre as duas e a evolução ou desenvolvimento dos processos. Neste âmbito existem três abordagens principais: a teoria factorial ou psicométrica, a teoria desenvolvimental e a teoria cognitivista ou do processamento da informação (Roazzi, Spinillo & Almeida, 1991).
As descrições sobre a inteligência podem também agrupar-se em torno de teorias implícitas que constituem construções mentais que qualquer sujeito, investigador ou leigo, pode desenvolver acerca da inteligência e que podem ser explicitadas (Faria & Fontaine, 1993, p. 471).
Estas perspectivas são sobretudo intraculturais e descritivas, e embora, por vezes, se baseiem em teorias científicas, não resultam de análises ou observações objectivas.
As teorias implícitas veiculam as representações das pessoas sobre a inteligência pelo que poderão ser consideradas teorias de significados, enquanto que as teorias explícitas procuram definir o que a inteligência é na realidade.
Assim, num estudo levado a cabo por Sternberg et al. (1981) constatou-se que para a grande maioria das pessoas a inteligência comporta três tipos de competências essenciais: competência para resolver problemas analisando-os adequadamente e interpretando e processando a informação com precisão; competência verbal; competência social. As representações pessoais de inteligência valorizam ainda a capacidade de definir, estabelecer e orientar a acção para metas e objectivos utilizando as competências intelectuais em contextos alargados e diversificados e não apenas em situações académicas (Sternberg, 1985b).
Ditas de outra forma as três competências acima referidas podem ser traduzidas nas seguintes capacidades:
Capacidade para enfrentar situações novas e de se adaptar a elas de uma forma rápida e eficiente;
Capacidade de utilizar, com eficácia, conceitos abstractos;
Capacidade de fazer relacionações e aprender rapidamente.
Thorndike chama a atenção para outros tipos de inteligência que não apenas a conceptual e lógica:
Inteligência Prática: revela-se ao nível da actividade concreta, envolvendo a manipulação de objectos. Manifesta-se empiricamente pela invenção, fabrico e uso de objectos, estando na base de respostas concretas aos problemas do quotidiano.
Inteligência Social: está na base dos relacionamentos sociais. Manifesta-se na vida relacional e social e na resolução de problemas interpessoais, recorrendo predominantemente à intuição.
Inteligência Conceptual: manifesta-se sobretudo na capacidade verbal e simbólica. Pressupõe o recurso de linguagem e manifesta-se nas capacidades de compreensão, raciocínio e resolução de problemas/ tomadas de decisão.
É difícil separa em três categorias distintas a inteligência prática, a social e a conceptual, dado que interagem de forma constante e construtiva.
O Pavilhão do Conhecimento fala-nos ainda de Inteligência fluida e cristalizada. Sendo que a inteligência fluida informa sobre a capacidade de lidarmos com um problema imediato. E a inteligência cristalizada é uma indicação de um repertório de conhecimentos, competências e de estratégias. A inteligência cristalizada é alcançada através da utilização da inteligência fluida em vários contextos.
INTELIGÊNCIA E INSTRUMENTOS DE MEDIDA
Binet e Simon criaram a Escala Métrica de Inteligência constituída por testes destinados a medir as capacidades mentais. O resultado obtido nos testes indicava a idade mental.
O termo Quociente de Inteligência (QI) é usado pela primeira vez por Stern. Numa nova versão, passa a ser denominada por Escala Stanford-Binet.
O QI é = idade mental (obtido nos testes) a dividir pela idade cronológica e multiplicado por 100.
Nos finais da década de 30, Wechsler apresenta a Escala de Inteligência de Wechsler para Adultos (WAIS).
Testes de Inteligência – A Polémica
Nas primeiras décadas do nosso século, ao serem utilizados de forma redutora e abusiva, os testes de inteligência conduziram ou justificaram a discriminação social e racial. Assiste-se na década de 60, a uma forte contestação ao modo como estes instrumentos de mediada eram utilizados.
Muitos psicólogos denunciam o facto de os testes terem justificado a institucionalização da ideia de que os diferentes grupos étnicos, raciais e sociais correspondiam a diferentes opiniões cognitivas, hereditariamente determinadas e reflectidas nos resultados QI.
É enfatizado o facto de os testes alimentarem preconceitos culturais ao utilizarem fundamentalmente a experiência da cultura ocidental.
COMPOSIÇÃO DA INTELIGÊNCIA
Abordagem Factorial
Spearman (1927) desenvolveu testes de vários tipos: de memória, de percepção, de fluência verbal e de lógica. Aos resultados obtidos pelos sujeitos, aplicou um método estatístico designado por análise factorial. Através deste meio seria possível estabelecer correlações entre as aptidões avaliadas pela aplicação dos testes.
Coloca a hipótese da existência de uma capacidade de inteligência geral – o factor G – que estaria subjacente aos factores específicos – factores S. Estes factores, corresponderiam a aptidões específicas, permitindo explicar que uma pessoa fosse mais dotada para certo tipo de actividades do que outras.
A inteligência geral – fundamentalmente hereditária – estaria na base de todos os actos intelectuais determinando por isso, a capacidade da pessoa.
A Concepção Factorial
Thurstone nas suas investigações não encontra fundamento para afirmar a existência do factor G.
Da análise dos resultados conclui que existiram sete aptidões mentais primárias ligadas a tarefas específicas:
Aptidões espaciais e visuais: capacidade de visualizar e compreender formas e relações espaciais;
Rapidez perceptual: capacidade para compreender rapidamente pormenores, semelhanças e diferenças entre os objectos, os estímulos;
Aptidão numérica: capacidade para fazer cálculos e resolver operações aritméticas;
Compreensão verbal: capacidade para compreender o significado das palavras;
Memória: capacidade para reter e recordar informação;
Fluidez Verbal: capacidade para compreender a linguagem oral e escrita;
Raciocínio: capacidade para tirar conclusões seguras a partir de afirmações gerais (raciocínio dedutivo) e para retirar conclusões gerais a partir de exemplos particulares (raciocínio indutivo).
Teoria das Inteligências Multiplas
Gardner considera que existem 7 tipos de inteligências:
Inteligência Linguística: aptidão verbal;
Inteligência Lógico-Matemática: aptidão para raciocinar;
Inteligência Espacial: aptidão para reconhecer e desenhar relações espaciais;
Inteligência Musical: aptidão para tocar instrumentos, cantar;
Inteligência Corporal-Cinestésica: aptidão para controlar movimentos de forma harmoniosa;
Inteligência Interpessoal: aptidão para compreender e responder adequadamente aos outros;
Inteligência Intrapessoal: aptidão para se compreender a si próprio.
RELAÇÃO ENTRE A INTELIGÊNCIA E DIVERSOS FACTORES
A inteligência depende da interacção entre hereditariedade e factores sociais.
As crianças, jovens e adultos são muito influenciados nos aspectos intelectuais pelas expectativas – positivas e negativas – feitas sobre eles, sobretudo pelas pessoas significativas como pais, professores e amigos.
Os sujeitos tendem a ajustar-se às expectativas.
INTELIGENCIA E CRIATIVIDADE
O pensamento tem duas vertentes a convergente e a divergente.
A convergente: existência de uma resposta ou conclusão que surge como única (dominado pela lógica e objectividade).
Divergente: exploração mental de soluções várias, diferentes e originais para um mesmo problema.
Criatividade
A criatividade apresenta três aspectos fundamentais:
Fluidez: conduz o criador a propor um grande número de soluções onde a maior parte dos indivíduos só encontra algumas;
Flexibilidade: qualidade que permite passar facilmente de uma categoria de coisas, ou de um aspecto de um problema, a outra, em vez de se limitar apenas a um ponto de vista;
Originalidade: constitui a característica por excelência da criatividade no sentido em que a obra criada resulta da síntese de uma nova combinação de ideias.
A criatividade também está intimamente ligada às condições do meio.